terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Musica com Historia 291215772

O segundo disco da dupla formada pelo maliano Ballaké Sissoko e pelo francês Vincent Ségal é um pequeno milagre. O som luminoso e encantatório da kora unido a um violoncelo que, nas mãos de Ségal, ganha mil formas – flauta bucólica, orquestra magrebina, zumbido avassalador. Dois homens em conversa longa e frutuosa enquanto a noite avança num terraço de Bamako. Admirável e comovente. De um génio admirável, de uma humanidade desarmante.


O som cristalino e fluído da kora acompanhado das cordas percutidas do violoncelo. A kora que cresce numa cascata de notas, que serena o ritmo para que nos recostemos de olhos nas estrelas imaginadas, maravilhados. O violoncelo que há-de soar como uma flauta poderosa, como orquestra magrebina imponente, como contrabaixo que se enlaça nas cordas luminosas da kora. 

A tradição cultural mandingo (aquela a pertence Ballaké Sissoko) a transformar-se em música de câmara em Prélude, a imaginar solo brasileiro em Passa Quatro (nome da localidade brasileira, em Minas Gerais, que inspirou a melodia a Vincent Ségal), os Étoile de Dakar de Youssou N’Dour, a lenda musical senegalesa, homenageados em Super Étoile, o tom grave do zumbido, criado no violoncelo, que sobrevoa Balazando, e a voz de Babani Koné, a grande cantora maliana, que agracia Diabaro – foi por ela, e por respeito a ela, que tanto queria gravar com o duo, que Ballaké e Vincent acederam a trocar o terraço por um verdadeiro estúdio. “Não podíamos recusar tê-la no álbum e não a podíamos pôr a cantar no terraço, seria estranho”, explica Ségal. “‘Somos músicos profissionais, porquê gravar aqui e não no estúdio?’, diria ela”. Talvez Babani não compreendesse, mas Ballaké e Vincent Ségal não quereriam – não poderiam – fazer Musique de Nuit de outra maneira.

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